Foto Juliana Boechat

Foto Humberto Araújo

A Cia D’Lírios surge a partir do processo do espetáculo “A Caravana dos Delirantes”, sendo esse a montagem de diplomação da turma de 2022 do curso de Teatro pelo Centro Universitário IESB. Originalmente composta pelos alunos formandos daquele semestre, o desenvolvimento do projeto foi envolto de laboratórios, pesquisas e processos colaborativos que resultaram em um espetáculo potente e intrigante, mas que ainda havia potencial de crescimento e evolução.

Com isso, parte dos integrantes originais se despediram do projeto, enquanto a outra parte deu continuidade, assim, a cia ganha novos membros que deram prosseguimento e levaram o espetáculo para festivais importantes na cena teatral do Distrito Federal.

A Cia D’Lírios nasce com universitários e progride com artistas.

integrantes

Denis Camargo

diretor cênico

Denis Camargo é Doutor e Mestre em Artes Cênicas pelo PPG-Arte do Instituto de Artes, graduado como Bacharel em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília (UnB).

É co-fundador e integrante do grupo BR s.a. - Coletivo de Artistas que surgiu em 2009 onde atua como diretor, ator, palhaço e produtor cultural.

Como ator, atuou em diversos espetáculos teatrais e de dança sob as direções: Antônio Abujamra, Hugo Rodas, Miriam Virna, Giselle Rodrigues, Heloísa Almeida, Kênia Dias, James Fensterseifer, Humberto Pedrancini, Lidiane Araújo, José Regino, Simone Marcelo, Cristiane Rocha, Marcus Mota, William Ferreira e Carlos Fernirah.

Atualmente é Docente das disciplinas Prática de Montagem, Produção e Gestão Teatral e História do Teatro III, no Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB. Foi professor Substituto na Universidade Brasília – Departamento de Artes Cênicas (março de 2018 a março de 2019). Foi docente na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes/2007, Universidade de Brasília/2011, Instituto Federal de Brasília/2012.

Possui formação Complementar em Palhaçaria, com as/os mestres: Sue Morrison (CN), Avner - the eccentric (EUA), Gorka Ganso (ES), Chacovachi (AR), Doutores da Alegria/SP, Leris Colombaioni (IT), Hilari Chaplain (EUA), Doutores da Alegria, Ézio Magalhães, Pepe Nuñes (ES), João Artigos, Mauro Zanatta e Márcio Libar. Concluiu o 1º ano do curso Formação Profissional em Clown da escola Le Samovar na França.

Walber Freitas

diretor musical e preparador vocal

Filipe Miranda

ator

Filipe Miranda tem 28 anos, é do Goiás mas reside no Gama-DF. É ator e palhaço, formado em Teatro no Centro universitário IESB.

Fez parte de trabalhos, como "Curral Del Rei", direção de Liliane Rímoli; "A Caravana dos Delirantes", direçãod e Denis Camargo e "Carrinho e Guardas-chuva", direção de PH Amorim. Faz arte a 5 anos.

Como palhaço participou do projeto "Palhaços nos Hospitais" como por exemplo Hospital da Criança.

Gabriel Pogó

Foto Jéssica Lima

A Caravana dos Delirantes

ESTREADA EM 2022

FICHA TÉCNICA

Espetáculo: "A CARAVANA DE DELIRANTES”

Dramaturgia: ALCIONE ARAÚJO

Adaptação e Direção cênica: Denis Camargo

Elenco: Dani Magela, Filipe Miranda, Gabriel Pogó, Lucas Amado, PH Amorim, Mateus Alencar e Stefany Mota.

Trilha Sonora: executada ao vivo pelos atores.

Direção Musical e Preparação Vocal: Walber Freitas.

Assessoria Teatro de Sombras: Karla Juliana e João Calmoni.

Cenografia e Figurino: Denis Camargo e elenco.

Maquiagem: Elenco.

SOBRE O PROJETO INICIAL DE "A CARAVANA DOS DELIRANTES"

A turma de Diplomação 1º/2022 decidiu trabalhar com o texto “ A Caravana de Ilusão” de Alcione Araújo. Contudo, houve um processo de adaptação estética e de linguagem de forma que, a obra original, fosse transposta para a Linguagem da Bufonaria.

Por quê propusemos uma estética de Bufonaria? Qual é a sua relevância cultural e pertinência temática dessa proposta? Primeiramente, essa poética ou estética encontra-se estabelecida historicamente, presente na cultura popular, dando conta de papéis sociais como o entretenimento, o fomento ao pensamento crítico, a higiene mental e a educação afetiva. Sua área de atuação possui ferramentas de produção, técnicas específicas e gera produtos que provocam o espírito de cidadania através do questionamento e do riso. Esse fluxo contínuo do palhaço e do bufão, do palhaço-bufão ou do bufão-palhaço, merece especial atenção na arte contemporânea, pois tal processo criativo permitirá aos artistas envolvidos acessarem qualidades essenciais do artista cômico, reveladas pela história do ofício e pelas técnicas transmitidas por especialistas ao longo dos tempos, mas que por vezes são ignoradas pelos criadores da atualidade.

Por isso, destacamos que os diferenciais da proposta estão alinhados com o desejo da produção artística de sobreviver às intempéries e impactos causados pela pandemia da COVID-19 de 2020 e 2021. Essa proposta de criação de espetáculo de palco ou rua viabiliza o encontro da arte da cena com o espectador, pois as apresentações serão a céu aberto. E essa é base central da nossa motivação, pois acreditamos que ela garantirá a execução dessa proposta e ainda promoverá a segurança das/os artistas e público alvo. Além disso, iremos pesquisar e desenvolver um espetáculo interdisciplinar que mistura as distintas linguagens cênicas: Teatro, Palhaçaria e Bufonaria.

Em “A Caravana da Ilusão”, o autor coloca como temática central a paixão do artista por seu ofício, expõe em cena uma trupe de saltimbancos e andarilhos, os quais levam sua arte ao público em praças e feiras. O texto possui inúmeros trechos que levantam questões éticas, sociais e estéticas relacionadas, principalmente, a um olhar crítico sobre as condições que a arte, sobretudo a do circo, enfrenta para sobreviver. Segundo o próprio dramaturgo, “o impulso de escrevê-la surgiu de uma longa contemplação – dias, meses, anos de deslumbramento – da série de quadros de Pablo Picasso sobre a temática circense, intitulada Saltimbancos, pelo próprio pintor” (ARAÚJO, 2000, p. 9). Indecisos diante dos caminhos da vida, eles se sentem (e são) excluídos pelas pessoas que moram na cidade, além de levarem consigo todo o peso da tradição do circo, arte a qual representam.

Dramaturgicamente, Alcione Araújo, em "A Caravana da Ilusão", desenvolve uma estrutura dramática organizada em ato único, composto de cenas dependentes entre si, ou seja, que estão interligadas. As personagens da história estão diretamente ligadas ao universo artístico e caminham pelo mundo em busca de acertar suas escolhas. Logo no início, o autor especifica que Bufo, Lorde, Bela e Roto são componentes de uma trupe de artistas mergulhada numa tristeza profunda causada pela perda de seu líder - pai dos três primeiros. Indecisos diante de direções que levam para lados opostos, eles só têm uma certeza: um desses caminhos permite a continuação da história da trupe e do seu trabalho artístico e, o outro, traz o perigo iminente do desmembramento do grupo e o fim da história daqueles artistas. Numa parada para descansar e matar a fome de respostas, a trupe encontra outra personagem da história. Ziga é uma triste cigana que encontra os saltimbancos numa encruzilhada e, a partir desse momento, os obriga a tomarem uma decisão. Assim que recomeça a caminhada da trupe, uma bifurcação outra vez marca o caminho. Os saltimbancos não percebem, mas estão naquele lugar onde a peça começou. A ação é una, total e circular, isto é, seu desenvolvimento leva a ação de volta ao mesmo ponto do princípio. Como no mundo, as ações que fazem a progressão temporal da peça também se transformam no espaço. Lorde, filho caçula do velho líder, se lembra desse caráter do planeta em que vivem os humanos: “Perdão, se os ofendo. Mas, se a terra é redonda, como disse aquele velho na última feira, que diferença faz se andamos para lá ou para cá? Em qualquer direção que formos, estaremos girando, e passaremos sempre pelos mesmos lugares” (ARAÚJO, 1999, p. 18).

O dramaturgo evoca os conhecimentos prévios do espectador para completar o sentido da história, revelando mais sobre o universo dos artistas, do circo e do teatro. Essa obra expõe que a arte é como uma máquina que produz sonho e ilusão. O seu funcionamento depende de profissionais hábeis no trabalho ao qual se dedicam. Os núcleos de circo e de teatro trazem esses profissionais representados pelos palhaços, bufões, atores, diretores, encenadores, figurinistas, enfim. Cumprem-se inúmeros papéis para colocar em funcionamento a máquina da ilusão, sendo todos de igual valor. Por outro lado, A morte do Bufão também pode ser o final da história daquela família de artistas. Utilizando as rubricas, Alcione Araújo continua descrevendo a trupe: “São quatro figuras exauridas pelo cansaço das longas caminhadas, abatidas pela tristeza que a morte recente do velho Bufão lhes deixou no coração; melancólicas pela nobreza envelhecida, envilecida e esfarrapada de suas roupas de cores, outrora fortes, mas agora pálidas e que, apesar disso, conservam a altivez nas atitudes e a intensidade nos sentimentos, movidos, quem sabe, pela fé e a esperança que lhes vêm no sangue desde tempos imemoriais” (ARAÚJO, 1999, p. 15).

Os pobres saltimbancos possuem a difícil tarefa de garantir a manutenção da arte circense, da tradição familiar e, por que não dizer, da tradição milenar do circo. Durante toda a peça, a identidade daqueles artistas precisa ser reafirmada. Bufo recorre aos ensinamentos do pai, para fortalecer os laços com seu passado e com a arte que representa: “O pai dizia: o homem é o único animal que sonha. E que pode realizar seus sonhos. E, entre os homens, nós fomos destinados a isso: a criar sonhos e morrer de ilusão...” (ARAÚJO, 1999, p. 21). E acrescenta, ainda, uma característica que distingue a humanidade das outras espécies: a capacidade de sonhar. Alcione afirma que “os mortais vivificam em seus sonhos os monstros que escondem a sete chaves na luz do dia” (ARAÚJO, 1999, p. 26). A caravana da ilusão apresenta o sonho como principal produto da arte. Além disso, cada personagem da peça carrega consigo as belezas e as monstruosidades que também existem no mundo real.

Quando se trata de artistas de circo, há menos possibilidades de voltar atrás, pois o espetáculo não pode parar e os exercícios, sendo realizados no picadeiro, não admitem a dissimulação. As dúvidas da trupe despertam uma reação no público, que se vê instigado a escolher o melhor caminho para os saltimbancos. Dessa forma, o espectador é agente, pois pode aceitar ou refutar a escolha da personagem. Há, portanto, uma atitude de reflexão crítica depositada no espectador durante o desenvolvimento do espetáculo. Prova desse caráter filosófico, atribuído às personagens e ao público, está nas perguntas que os saltimbancos lançam durante sua caminhada. Diante da primeira encruzilhada da peça, Bufo questiona: “E agora?” (ARAÚJO, 1999, p. 15). Em seguida começa uma discussão entre todos. Ao longo da peça, levantam-se inúmeras questões. Lorde afirma: “Eu começo a me perguntar: por que fazemos isto? Por que somos isto? Que sentido há em ser o que somos?” (ARAÚJO, 1999, p. 20).

Na verdade, essas são questões que há muito habitam o pensamento dos seres humanos. Assim como o artista, o cidadão busca descobrir a sua verdadeira função neste mundo. Para isso, muitas vezes, ele necessita assumir uma posição de distanciamento perante os fatos da vida cotidiana.

Em diversos momentos da peça, os saltimbancos colocam em questão os costumes cultivados pela sociedade contemporânea, em contraponto aos costumes de seus antepassados. Além disso, também ocorre o confronto dos ideais almejados pelo homem das cidades, em relação aos hábitos dos artistas que vivem em caravana pelas estradas.

Sobre a equipe de criação do espetáculo: A direção cênica ficou a cargo do artista-docente Denis Camargo (Doutor e mestre pela UnB, Diretor, Palhaço, Ator e Produtor Cultural). O elenco de jovens artistas que se formaram com essa proposta cênica: Dani Magela, Danilo Oliveira, Filipe Miranda, Jozie Maranhão, Mateus Alencar, PH Amorim e Yan Pádua. O espetáculo foi desenvolvido em 4 meses de trabalho, iniciando suas atividades de ensaio em fevereiro e finalizando a temporada em julho de 2022.

Após essa primeira temporada, alguns integrantes saíram e outros vieram. Apresentamos, ainda no ano de 2022, em 2 festivais do Distrito Federal: "2º Festival Dulcina" e "CéU - Cena Universitária Nacional de Brasília - 3ª Edição".

Por fim, agora seguimos com a Cia D´Lírios, em busca de novos espaços, momentos e memórias. Delirantes por arte.

Fotos Humberto Araújo

Fotos Jéssica Lima

Teaser 1

Teaser 2

Making Of

FICHA TÉCNICA

Direção de vídeo Making-of: Pedro Avellar

Produção: Antônio Andrade e Ana Luíza Araújo.

Equipe de Fotografia e Iluminação: Gui, Mariana Neves e Sthéfany Garcia.

Foto Still: Patrícia Lins

Som: Zevane Moura, Anna Dettmar e Fernanda.

Edição: Rafael Albuquerque